Há alguns anos atrás a televisão brasileira tinha na publicidade veiculada nos intervalos de seus programas um teor de criatividade muito mais eficiente do que o atual. Poderia haver menos recursos tecnológicos para filmagens ou ainda poucos efeitos especiais disponíveis numa época pré-internet. Mas mesmo assim os comerciais dialogavam com o telespectador de modo único, fazendo parte até mesmo da cultura nacional. Inúmeros comerciais daqueles tempos com seus slogans e jingles ficaram na memória dos telespectadores-consumidores de produtos e serviços veiculados.
A publicidade valia-se de slogans criativos e marcantes que podiam ser notados em frases como 'bonita camisa, Fernandinho', passando pelo anti-caspa 'parece mas não é', ou o bancário 'o tempo passa, o tempo voa'. Somado a isso, havia um repertório de personagens - sim, a publicidade teve em momentos passados uma característica narrativa - que perduraram por anos e ainda são citados por aí. Havia o detetive do aditivo automotivo que procurava a 'gangue' de malfeitores que 'danificavam o motor do carro', num ótimo exercício de personificação. Também havia o 'comercial dos mamíferos' com crianças representando filhotes de mamíferos - um clássico da publicidade nacional. E finalizando temos o internacionalmente premiado 'comercial do primeiro sutiã' onde a protagonista - também conhecida como 'a garota do primeiro sutiã' representava a fase de transição para a idade adulta de inúmeras adolescentes, numa peça publicitária que ficou marcada pelo teor poético e singelo, mesmo numa época já de costumes liberais.
Entretanto os tempos são outros, os comerciais não tem mais jingles criativos, personagens, ou slogans que adentrem no dia a dia do idioma. Agora existe uma estagnação na criatividade, onde poderíamos citar os bancos e suas mensagens de 'sustentabilidade' que de certa maneira são insustentáveis, bastando observar as filas enormes nas agências com um consequente aumento no consumo de ar condicionado, não condizendo com as frases 'nós nos importamos com o meio ambiente'. O mesmo vale para a indústria automobilística que, sem nenhum constrangimento toma o discurso ambientalista em suas propagandas - basta lançar um carro com o selo 'eco' e a empresa se tornará 'amiga da natureza'. Isso não citando as propagandas com animais silvestres correndo ao lado dos carros ou, mais insensato ainda, carros urbanos transitando em local improváveis, tais como regiões montanhosas, riachos, trilhas.
Existem inúmeros outros aspectos que facilmente são percebidos num comparativo entre a propaganda de tempos não tão distantes com a contemporânea. Nem na parte musical há cuidado, não existem mais canções bem elaboradas, pega-se uma música (internacional principalmente) e em trinta segundos tenta-se vender produtos e serviços com pinceladas de discursos esquisitos. Não há mais personagens consistentes em peças publicitárias. Não há mais espaço para a 'garota do primeiro sutiã' e a descoberta do novo mundo feminino representado pelo acessório que representa como poucos a feminilidade. Há apenas a pseudo-sustentabilidade em serviços e produtos e uma feminilidade forçada, que não reflete o caráter da mulher de modo real. Não que eu despreze o pensamento ecológico, mas penso que havia um aspecto duradouro nas mensagens publicitárias de antes. Trocaram o sutiã pela sustentabilidade falsa. E entre os dois, fico com o primeiro.
Fontes:
http://www.youtube.com/watch?v=8-Ze4hCtZCY&feature=relatedhttp://www.youtube.com/watch?v=oH_keCZnv_M