15 de ago. de 2010

Maitê, Dilma e os 'jeitinhos'

Maitê Proença em recente entrevista no site do Estadão tratou de vários assuntos envolvendo sua carreira, sua vida familiar, projetos e  política. Em determinado trecho da entrevista Maitê disse que o machismo brasileiro poderia salvar o país da eleição de  Dilma Rousseff  para a presidência da república. Esta observação - considerada retrógrada por envolver um problema que é a raiz de problemas sociais históricos no Brasil - causou indignação em vários lugares, principalmente em blogs de esquerda como o de Paulo Henrique Amorim.

Interessante notar que apesar de toda esta polêmica da fala da atriz, que foi oportunamente usada de modo pejorativo pelos opositores dos tucanos para denunciar uma suposta apologia à violência doméstica, ao estupro, ao assédio sexual e moral, males que afligem não só mulheres em si, mas toda a sociedade  e que tem raiz no machismo, essa denúncia, apóia-se na demagogia partidária que nos ronda atualmente, este clima de torcida que está mais forte do que nunca nestas eleições, inclusive na mídia.

É interessante ainda o fato  de Maitê apoiar Serra  e de receber pensão permanente por morte dos pais que eram  funcionários públicos de São Paulo, mesmo sendo casada. Isso porque, como se sabe, o partido dos tucanos não tem afeição pelos benefícios sociais conquistados, usando o argumento do 'estado mínimo' em tudo: na saúde, na educação, nos transportes (com pedágios), na segurança,  na previdência. FHC em seus tempos áureos  de presidente afimou que os aposentados 'jovens' eram 'vagabundos', num discurso onde defendia a reforma da previdência.

Mas voltando ao tema demagogia de ambos os lados - da esquerda que afirmou coisas supostas na fala de Maitê,  e da direita que quer apenas beneficiar o  lado de  cima da pirâmide social (Maitê com sua pensão de R$ 13.000,00 é certamente um ícone direitista), queria focar na posição demagógica que é geralmente vista  entre todos nós, sejamos de direita, esquerda ou centro. Maitê afirmou que o machismo poderia 'salvar' o país de eleger Dilma e possivelmente quando fez essa afimação não pretendia dizer que homens brutos ou mulheres alienadas que admitem que o homem 'pode fazer o que quiser com elas' iriam até as urnas para impedir uma possivel eleição da candidata petista. Evidente que ela não teve essa intenção. Entretanto a fala conservadora da atriz, talvez traga um ranço que tem nos ajudado em situações onde não vemos alternativas a curto prazo  e que alimentam o 'jeitinho brasileiro' ou o 'jeitinho de pensar brasileiro' para situações menos desgastantes possíveis.

Uma situação como exemplo. Quantos já não presenciaram na  mídia, crimes hediondos de violência sexual contra mulheres ou crianças e quando na captura do criminoso há um coro que diz: "Que bom, agora ele será 'donzela' na cadeia" - isso devido a um 'código de honra' entre presidiários, que não aceita estupradores entre eles e que pune com violência condenados por crimes sexuais.  E quando alguém se posiciona desfavorável a  esse 'código de honra da prisão' é visto como 'imoral', 'condescendente com maníacos', etc. Isso seria uma variante do 'jeitinho brasileiro', onde se exalta a violência para conter a violência, onde se deseja corrigir  a estupidez com doses reforçadas do mesmo remédio.

Essa variante da exaltação do 'jeitinho brasileiro' (a crença de que se a lei não ajuda, vamos criar uma 'lei paralela') também é notada em situações onde uma pessoa inocente é morta por engano por  policiais mercenários.  Já ouvi jornalistas de grandes veículos de comunicação de São Paulo dizerem em casos assim que 'foi apenas um caso isolado', como se a perda de uma vida de um cidadão correto não fosse nada, perante à simbologia negativa que isso causa na instituição polícial.  Esta banalização da 'violência contra a violência' é antiga no país, que o diga a Scuderie Le coq (também chamado de Esquadrão da Morte), famoso grupo que atuava à margem da lei no Rio dos anos 1960 e 1970 com ampla aprovação popular de seu caráter bandoleiro. 

Tanto o discurso de Maitê onde um 'mal'  - machismo - atacaria outro 'mal' - para Maitê,  Dilma - quanto o da exaltação da 'lei' marginal - refletem uma dura realidade. A de que não aprendemos ainda que não se constrói  justiça usando recursos condenáveis para atingir um objetivo, ou vencer um problema. Pensar somente em soluções imediatistas pode ser 'bom' em determinado momento, mas as consequências podem ser graves. Seja na vida pessoal ou pública, o jeitinho inocente de agora certamente pode trazer um  problema difícil de resolver na frente. E ficará mais caro do que se dispensarmos tempo e energia para resolvê-lo agora de forma correta , dentro da lei e  visando o bem comum.


Fontes:
http://www2.uol.com.br/JC/_1998/1205/br1205n.htm

8 comentários:

  1. Em verdade grande parte das pessoas são hipócritas ao extremo quando na questão se trata do outro ou quando entram os interesses próprios.Sempre desejam o pior para os fllhos dos outros, quando os seus cometem atrocidades "foram induzido pelas más companhias." Na política é pior ainda, cada um quer puxar todas as brasas só pra sua sardinha. Parabéns pelo texto.

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  2. Obrigado Alberto. Mas o pior de tudo é que o alastramento destas idéias hipócritas tem se tornado tão corriqueiras que nem percebe-se mais a falta de ética que contém. Abraços.

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  3. Olá, tudo bem? Discordo sobre muitos pontos do seu artigo. Em primeiro lugar, o PSDB não é um partido de direita, mas sim de centro (o DEM e o PP são de direita). Em segundo lugar: o governo FHC modernizou o País e criou essas bolsas que foram ampliadas no atual governo. O Governo Lula usurpou muitos avanços do governo passado. O que falta justamente nesta Eleição é uma candidatura de direita.. Serra está bem longe disso.. Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  4. Fábio,

    Eu penso que os tucanos,pelo menos em SP estão mais para a direita do que ao centro. O DEM de SP parece uma franquia do PSDB. E concordo que estamos colhendo frutos plantados anteriormente também, mas temos que olhar adiante, sempre. Abraço.

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  5. Marcos Vinícius,

    Li vários artigos sobre essa fala da atriz, nenhuma delas elogiosa. Do meu lado penso que Maitê Proença tem todo o direito de dizer o que bem entender sobre o assunto que quiser. Mas não condeno as reações ao que ela disse, afinal, como diz aquele velho ditado, "quem diz o que quer acaba ouvindo o que não quer". Liberdade de expressão é isso.

    Quanto ao componente político, claro que há, mas mesmo que a fala da atriz fosse proferida em outro contexto, e fora de ano eleitoral, tenho certeza que, ainda assim, geraria críticas, na maioria negativas.

    Agora, de esquerda, o PSDB não é mesmo. E hoje, a julgar pelos discursos dos candidatos do partido, nem de centro-esquerda ele esta parecendo. O PSDB foi fundado com a ajuda e o engajamento de alguns dos mais respeitaveis intelectuais de esquerda do país, mas nos últimos anos houve uma debandada geral e não sobrou ninguém, quer dizer, ninguém dentre os renomados nomes de outrora. Se o partido perder essas eleições, e eu acredito que vai perder, precisará ser refundado, caso contrário, morrerá.

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  6. Eduardo,

    Já tinha pensado nisso, esse lustro tucano já está ficando pálido e será sua ruína a partir desta eleição, se os resultados se confirmarem nas urnas. Abraço.

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  7. Considerar um partido que prega a redução do Estado de esquerdo é uma contradição. E se falando do José Serra que diminui os investimentos nas áreas tidas como sociais é uma contradição mais gritante ainda. Pra se ter uma idéia o Estado de São Paulo é o único a não contribuir pra o SAMU e desde o Governo de Alkmim se retirou a contribuição as APAEs paulistas. Agora o que me chamou a atenção é a Maitẽ Proença receber 12.000 reais do Estado de São Paulo. Pra mim foi uma surpresa!!!!!!!

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  8. Carlos,

    Disse oposição em relação aos tucanos, não referente ao pensamento de 'oposição X situação'.

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