O texto a seguir é uma tradução integral da matéria publicada na edição de 24/02/1977 do jornal The Franklin News-Record, da cidade de Franklin, estado da Virgínia, nos Estados Unidos. A edição pertence à biblioteca pública de Franklin e se tornou notória pelo fato de mostrar uma entrevista com o candidato do PSDB à presidência da República Aécio Neves, na época com 17 anos e que fazia um intercâmbio estudantil.
A entrevista possui elementos suficientes para que se tenha, em tese, uma noção exata de como é a visão sociológica e de mundo de nossas elites. Os pareceres do jovem Aécio, excetuando-se uma certa imaturidade que seria justificável comum a alguém de sua idade, mostram suas ideias equivocadas sobre a organização da sociedade brasileira, em suas características e estruturas mais elementares.
O destaque que se deu à matéria antiga, foi a declaração do candidato mineiro ao The Franklin de que nunca havia arrumado a cama, pois todo mundo no Rio de Janeiro, onde ele vivia então, tinha ''uma ou duas empregadas'', além de assegurar ao jornalista que o entrevistou, que a maioria das mulheres brasileiras não trabalhavam porque não precisavam financeiramente disto (o incauto futuro candidato apenas havia se esquecido que as empregadas que arrumavam as camas de garotos da elite como ele, eram também mulheres...)
Ao ler a entrevista podemos perceber a falta cosmovisão do garoto Aécio — o casuísmo é sua referência. Há sim, um ou outro lampejo, mas no geral o que se nota é que o pensamento voluntarista do futuro governador Mineiro e suas perspectivas foram corroborados em sua trajetória de homem público. A falta de tino social e altruísmo (na entrevista Aécio compara as escolas de elite do Rio de 400 alunos com as escolas públicas norte-americanas com mais de 1000 estudantes, além de afirmar que os brasileiros não estudavam inglês porque não queriam), a falta de cultura geral associada a um viés pernóstico, fazem-nos ver o porquê de a plutocracia e setores médio-classistas o terem como candidato ideal para governar o Brasil.
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A vida não muito diferente de um adolescente do Rio
A entrevista possui elementos suficientes para que se tenha, em tese, uma noção exata de como é a visão sociológica e de mundo de nossas elites. Os pareceres do jovem Aécio, excetuando-se uma certa imaturidade que seria justificável comum a alguém de sua idade, mostram suas ideias equivocadas sobre a organização da sociedade brasileira, em suas características e estruturas mais elementares.
O destaque que se deu à matéria antiga, foi a declaração do candidato mineiro ao The Franklin de que nunca havia arrumado a cama, pois todo mundo no Rio de Janeiro, onde ele vivia então, tinha ''uma ou duas empregadas'', além de assegurar ao jornalista que o entrevistou, que a maioria das mulheres brasileiras não trabalhavam porque não precisavam financeiramente disto (o incauto futuro candidato apenas havia se esquecido que as empregadas que arrumavam as camas de garotos da elite como ele, eram também mulheres...)
Ao ler a entrevista podemos perceber a falta cosmovisão do garoto Aécio — o casuísmo é sua referência. Há sim, um ou outro lampejo, mas no geral o que se nota é que o pensamento voluntarista do futuro governador Mineiro e suas perspectivas foram corroborados em sua trajetória de homem público. A falta de tino social e altruísmo (na entrevista Aécio compara as escolas de elite do Rio de 400 alunos com as escolas públicas norte-americanas com mais de 1000 estudantes, além de afirmar que os brasileiros não estudavam inglês porque não queriam), a falta de cultura geral associada a um viés pernóstico, fazem-nos ver o porquê de a plutocracia e setores médio-classistas o terem como candidato ideal para governar o Brasil.
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A vida não muito diferente de um adolescente do Rio
Por Bob Bradis, da redação
Para muitos de nós, o Rio de Janeiro é um ponto turístico onde o sol está sempre brilhando, as águas são cristalinas e a temperatura nunca está abaixo dos 21ºC. Deste modo, quando você pergunta porque alguém sairia de lá para vir aos Estados Unidos encarando um inverno rigoroso, deve haver uma boa justificativa.
Para Aécio Neves Cunha há um bom motivo — ele está em um intercâmbio estudantil brasileiro e esteve as últimas semanas na casa de Roger e Pat Davis em Franklin, estado da Virgínia.
Enquanto esquiava num fim de semana o filho do casal, Glenn, conheceu Aécio que lhe contou não ter feito muitas coisas desde que havia chegado ao país. Ele estava hospedado na casa de uma garota juntamente seus pais já há duas semanas e meia, mas disse que não tinha feito nada porque a moça não era muito sociável.
Então, depois de um acordo feito pelas duas famílias, Aécio veio para Franklin para ficar uma semana com a família Davis.
Ele estva cursando a Escola Arlington em Poughkeepsie, Nova York, tendo aulas de cerâmica, transportes, instalação elétrica, educação física e Espanhol. Isto poderia soar como uma rotina tranquila, mas as facilidades no Brasil não são muitas o suficiente para oferecer aos alunos cursos como estes.
Aécio veio para os Estados Unidos pelo programa ''Portas Abertas'' que custou-lhe por volta de US$1000,00. ''A razão de ser tão caro é porque o governo brasileiro quer desencorajar as pessoas a deixarem o país'', explicou na entrevista da última semana.
COMO QUALQUER OUTRO adolescente, Aécio ouve os mesmos grupos de rock e assiste aos mesmos programas de TV. Seus grupos favoritos são Led Zeppelin, The Who, Crosby, Stills, Nash e Young, Prampton e Bob Dylan — de quem ''gosta muito''. Os programas de televisão que assiste são ''Os Waltons'' e ''Kojak''.
Seus esportes favoritos são futebol e vôlei. ''No Brasil todo mundo joga futebol e vôlei. Há um estádio que abriga 150 mil pessoas (NT—ele se refere ao Maracanã) e todo mundo vai ver os jogos dos times de futebol'', diz.
O futebol americano e o hóquei são difíceis de entender, esta é a sua justificativa para não gostar de assistir aos jogos.
"A comida também é diferente da do Brasil. Lá nós comemos arroz, feijão e mais arroz''. Ele descreve a comida no Brasil como sendo muito apimentada e temperada, por isso ele põe muito sal e pimenta na comida daqui.
''As pessoas no Brasil não querem aprender Inglês, mas muita gente estuda para trabalhar nas empresas americanas'', diz. Há muitas delas no país, como Shell e Exxon, onde muitos brasileiros trabalham.
A idade permitida para dirigir carros no Rio de Janeiro é 18 anos, mas não é raro ver alguém menor de idade dirigindo. Muitas pessoas tem carros da Chevrolet e da Ford que custam por volta de US$9000,00. Há um carro conhecido como ''Puma'' que é feito no país; Aécio o descreve como sendo muito confortável e bem equipado. As motocicletas são usadas também por muitas pessoas por causa do problema de trânsito intenso na cidade do Rio de Janeiro.
''As escolas no Brasil são bem pequenas comparadas às dos Estados Unidos. Uma escola com quatrocentos alunos é considerada grande no Brasil'', explica Aécio.
Os alunos de lá somente ficam meio período na escola. Existem dois turnos que eles escolhem para frequentar. O primeiro começa às 8h00 e vai até às 12h30; o segundo começa às 13h00 e vai até às 17h30. O ano escolar vai de Março a Junho e então as aulas recomeçam e vão até Novembro. Julho é considerado como mês das férias de inverno.
APÓS O ENSINO MÉDIO a maioria dos estudantes vão, ou para as universidades federais que pagam pelo seu curso, ou para as universidades estaduais que têm mensalidade de US$300,00 em média, paga pelo aluno (NT —há um equívoco na matéria, Aécio confundiu universidades estaduais com ''particulares''). A maioria dos alunos estuda medicina ou direito e pensam em
conseguir emprego em uma das empresas americanas.
Se o aluno não for para a universidade, pode conseguir um trabalho que pague por volta de US$100,00 mensais — não há salário pago por hora no Brasil.
As mulheres brasileiras tem uma vida tranquila, segundo Aécio. A maioria das mulheres não trabalham porque não precisam, diz, então na maioria do tempo elas passam na praia ou fazendo compras em lojas.
''Todo mundo no Rio tem uma ou duas empregadas, uma para cozinhar e outra para limpar''. Ele acrescenta ainda ''Eu nunca arrumei minha própria cama.''
Aécio planeja se formar em engenharia civil e então provavelmente entrará na política assim como seu pai e seu avô. O pai é deputado federal e seu avô é líder do Partido Democrático (NT—PMDB)no país.
Os brasileiros somente votam em senadores e deputados e são estes mandatários que escolhem o residente do país. O Jornal do Brasil e O Globo são os jornais brasileiros que mantêm a população informada sobre o governo.
Uma coisa de que faz Aécio ter saudades de casa é que nesta semana acontece a maior celebração do país. É o carnaval, que é festejado antes do início da quaresma e no qual todo mundo celebra. ''Este é o único momento em que as classes baixa e alta se reúnem'', diz Aécio. Ele prosseguiu descrevendo como todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e então vão para casa nadar um pouco e então retornam às ruas para celebrar mais. Isto, diz ele, prossegue direto por quatro dias. ''É a melhor época do ano''.
Aécio já voltou para o Rio, mas disse que ele espera retornar e ver outros lugares dos Estados Unidos. ''Especialmente a Disneylândia''.
(Traduzido por Marcos V. Gomes)
conseguir emprego em uma das empresas americanas.
Se o aluno não for para a universidade, pode conseguir um trabalho que pague por volta de US$100,00 mensais — não há salário pago por hora no Brasil.
As mulheres brasileiras tem uma vida tranquila, segundo Aécio. A maioria das mulheres não trabalham porque não precisam, diz, então na maioria do tempo elas passam na praia ou fazendo compras em lojas.
''Todo mundo no Rio tem uma ou duas empregadas, uma para cozinhar e outra para limpar''. Ele acrescenta ainda ''Eu nunca arrumei minha própria cama.''
Aécio planeja se formar em engenharia civil e então provavelmente entrará na política assim como seu pai e seu avô. O pai é deputado federal e seu avô é líder do Partido Democrático (NT—PMDB)no país.
Os brasileiros somente votam em senadores e deputados e são estes mandatários que escolhem o residente do país. O Jornal do Brasil e O Globo são os jornais brasileiros que mantêm a população informada sobre o governo.
Uma coisa de que faz Aécio ter saudades de casa é que nesta semana acontece a maior celebração do país. É o carnaval, que é festejado antes do início da quaresma e no qual todo mundo celebra. ''Este é o único momento em que as classes baixa e alta se reúnem'', diz Aécio. Ele prosseguiu descrevendo como todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e então vão para casa nadar um pouco e então retornam às ruas para celebrar mais. Isto, diz ele, prossegue direto por quatro dias. ''É a melhor época do ano''.
Aécio já voltou para o Rio, mas disse que ele espera retornar e ver outros lugares dos Estados Unidos. ''Especialmente a Disneylândia''.
(Traduzido por Marcos V. Gomes)
Fontes:
http://www.franklintwp.org
http://www.franklintwp.org:85/FDATA/70s/News-Record/1977/1977-02-24.pdf