Nos últimos dias a mídia tem noticiado os estragos que as chuvas vem causando na cidade de São Paulo. Com muitas perdas ocorridas, procuram-se culpados enquanto as autoridades se eximem da responsabilidade de cuidar do planejamento da terceira maior cidade do planeta.
O prefeito Gilberto Kassab disse que o problema é que chove muito. Ele está certo, não tem sua afirmativa nada de descabido ou insensato. O problema é que ele e seus antecessores não tem dado a atenção necessária no quesito planejamento urbano. "A verticalização da cidade é muito grande. Esse é um grande problema, apesar de que também está chovendo muito em São Paulo", diz Augusto Pereira Filho, especialista em ciências atmosféricas da USP em entrevista ao site Folha Online. Também há dados que revelam que nos últimos dez anos a impermeabilização aumentou cinquenta por cento na cidade. A antes chamda capital das oportunidades agora é um martírio coletivo que atormenta a todos, não escolhendo renda, bairro, horário, dia da semana. Ainda estamos no meio do verão e os problemas poderão dobrar se nada for feito.
O problema é que São Paulo parou. Se não parou, está próxima da estagnação em todos os sentidos. O 'boom' imobiliário é um dos causadores do caos que vem em forma de enchente. A impermeabilização do solo pelo mercado imobiliário impossibilita o escoamento da chuva, causando alagamentos. Mas quem quer peitar as grandes construtoras que 'geram emprego', e trazem o progresso para a cidade?
Outro problema difícil de se resolver devido a interesses econômicos é a questão dos veículos na capital que gera trânsito excessivo, demora na locomoção, perdas na produção, estresse, doenças. Um dia o ex-prefeito Paulo Maluf (fiel seguidor do 'progressismo de concreto armado') disse que trânsito era sinal de progresso. Já ouvi por estas bandas paulistanas pessoas dizerem que 'o Piauí daria tudo para ter um trânsito como o de São Paulo' O estado com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país talvez não tenha tantos carros assim, entretanto eles tem sossego para poder se deslocar pelas cidades ou pela capital do estado sem sofrer o custo coletivo que um trânsito como São Paulo tem para oferecer. Afinal a cada dia mil automóveis são emplacados na capital paulista.
Um fator que também tem sua parcela de culpa no caos urbano da capital é a característica anti-coletiva do paulistano, que de certa forma reflete a mentalidade do país. Precisa a população de São Paulo - e do país - parar de classificar aquilo que é público como sendo algo para alguém que não pode pagar por determinado serviço, algo para 'pobres'. Com esta visão canhestra, São Paulo virou a cidade dos condomínios fechados, das praças fechadas, das ruas fechadas (um grupo de moradores decide fechar uma rua e eis que temos um quarteirão inteiro fechado, justificado pelo argumento 'classe média' de 'segurança 24 horas'). Idem para a via pública, esta um reflexo do desleixo e da falta de educação do paulistano que, seja dentro de um popular 1.0 ou dentro de uma perua SUV, julga a via expressa um lixão a céu aberto, onde os copinhos de plástico, bitucas de cigarro, frutas e outros detritos podem ser jogados sem constrangimento. E esta falta de civilidade está embasada no seguinte argumento: se é pública, não é minha, pois tenho dinheiro para pagar´; público é para quem não pode. Daí não sendo minha, não há em minha consciencia nenhum fardo coletivo que me acuse de indiferença para o bem comum (público).
Os números da pesquisa do Ibope de Janeiro último dizendo que 57% dos paulistanos deixariam a cidade se pudessem, mostram o caos que São Paulo chegou. Outrora capital dos migrantes e imigrantes, da diversidade cultural, de oportunidades infindáveis e de uma certa maneira (sem ufanismos ou xenofibias) o 'Brasil que deu certo', São Paulo é hoje um arremedo dos sonhos de nosso avós, o berço onde apenas o interesse mercantil tem voz, uma cidade que é um exemplo a não ser seguido de desprezo pelo planejamento visando o bem estar coletivo, o ambiente saudável, o bem público. Bem público, palavra tão vazia de conteúdo na mente dos dirigentes subservientes aos 'donos da cidade', destruidores de sonhos, encastelados em suas torres de marfim. Será que os governantes estão esperando o caos completo para tomarem posicionamentos há tanto aguardados pela coletividade? Ou tomarão atitude apenas quando boa parte da população cansada disser: 'Bye-bye São Paulo'?